segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

A RUA É INSUBSTITUÍVEL

Bons tempos em que andávamos usando os nossos pés! Quando se adquire um carro, as coisas mudam. Deixamos de contemplar! Perdemos o olhar da diversidade cotidiana. Hoje miramos apenas num olhar, semelhante aos dos cavalos com viseira.
O carro é nos leva rápido(?). Kkkkkkk! O carro é conforto. É status e até serve como viagra para alguns machos. Há homens que apóiam a sua masculinidade num objeto de 4 rodas. Alguns se sentem mais machos. Tirando-lhes o carro volta-se ao anonimato. O carro tornou-se passaporte social, afetivo e sexual.
Relutei muito em aprender dirigir. Gostava de andar, caminhar e olhar para os pequenos detalhes que ser perdem ao transformar-se num motorista.
Do ser pedestre ao ser motorista, as coisas mudam bruscamente. O pedestre é uma pessoa que caminha, além de exercitar o seu corpo, tem a mente em plena atividade nos olhares que o cercam. Já o motorista, só enxerga outros automóveis ou semafóros. O motorista é um ser que perde as pernas ao ser substituídas pelas rodas.
Lembro-me, certa vez, quando resolvi ficar sem automóvel. Foi um escândalo que suscitou curiosidade. Afinal, quando você se encontra num alto patamar socia e, economicamente, na condição de privilegiado e diferenciado, torna-se herético falar aos seus amigos que você não tem muito afeição por automóvel.
Sendo classe média, a sua opção soa como alguém que ficou louco. Andar de automóvel, mesmo circudando sem direção e rumo, é uma marca determinante para este estrato social.
O carro é o cartão de visita. O carro substitui o caráter das pessoas. Com o carro não se questiona a ética da pessoa. O carro é o senhor absoluto que tem direito até a transgressão. Carro sobrepõe-se aos direitos fundamentais dos seres humanos.
O carro é o objeto de fetiche, de desejo e de impunidade. Com o carro leva-se vantagem até nos delitos que se comete através dele. Matar com carro é algo muito mais vantajoso para quem deseja matar alguém. Basta tomar uma dose de bebida alcoólica e dirigir. Pronto! se acertar alguém, no máximo a pena implica numa punição leva e estimuladora, através de uma doação de cesta básica.
Perdemos a noção do ser humano, do ser cidadão e do ser solidário. O carro é o senhor supremo da vida urbana. Ele impõe a destruição de calçadas, de árvores, de parques e campos esportivos. O carro destrói tudo e transforma o espaço público num grande estacionamento.
Se necessário for, tira-se a calçada ou a árvore para dar lugar e conforto totêmico.
O carro tira a consciência e gera na pessoa um comportamento constantemente contraditório. Vejo amigos e amigas que condenam o fumo, a destruição das florestas, mas esquecem que seus automóveis são um dos maiores poluidores do Planeta. É o velho adágio: "O sujo falando do mal lavado".
Bons tempos que caminhávamos e o caminho nos supreendia. O caminho do pedestre é imprevisível e surpreendente. Podemos passar várias vezes no mesmo lugar, certamente encontraremos alguém diferente.
Já o automóvel nada nos traz de novo quando se usa o mesmo percurso mesma via. Tudo se repete. Nos dois lados, dos nossos rápidos olhares, só se enxerga automóvel.
O carro é conforto. É substituição das pernas. Esquecemos que essa comodidade tem um custo fisiológico, psicológico e físico. O carro nos obriga a programar a vida, até nas coisas mais simples. O carro é agendamento. Programa-se para rir, exercitar o corpo e encontrar-se com amigo.
Afinal, tudo na vida tem um preço. A vida aí posta, nos impõe escolhas maniqueístas. Ou andamos de carro ou arriscamos nossas vidas na condição de pedestre ou ciclistas.
O preço da comodidade é o alto gasto financeiro que dispomos nas academias ou nos inúmeros remédios que cumpre o papel ideológico de estimular o riso, a circulação sanguínea e o cérebro desumanizado.
Viva os bons tempos que usávamos as pernas e nos encontros e desencontros com outros pessoas trazíamos, via de regra, a novidade.
Vou andar, antes que acabem com o restinho das estreitas calçadas que ainda existem nos grandes centros urbanos e, felizmente desconhecidos pelos motoristas.
O predador do presente chama-se automóvel. Mesmo matando mais do que as balas nos centros urbanos, continua venerando e santificado pelos pagãos e religiosos.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A SIMPLICIDADE É PASSAPORTE PARA UMA BOA ACOLHIDA SOCIAL

A vida capitalista tem o seu percuso natural de segregação social. Faz parte da natureza capitalista transformar os seres humanos em coisa etiquetadas. As pessoas são selecionadas por afinidade econômica, racial e religiosa. As pessoas agem conforme a identidade social. Somos solidários de forma seletiva.
A experiência das enchentes em Santa Catarina é bom exemplo de solidária eletiva e seletiva. Nunca dantes vi algo tão semelhante em termos de solidariedade. Barracos de pobres frequentemente são atingidos com maior proporção catastrófica e nunca tiveram a mesma acolhida em termos de reconstrução. Crianças e adolescentes são exploradas sexualmente; trabalhadores escravizados em lavouras. Nunca vi essa mesma comoção nacional prestando a mesma solidariedade a outras pessoas negras, pobres e índios que sofrem todas as formas de violação aos seus direitos humanos e também, as intempéries da natureza.
Aliás, provavelmente algumas dessas pessoas que se comoveram e contribuiram para a reconstrução das cidades turísticas de Santa Catarina são pessoas indiferentes a outros tipos de catastrófe social.
Tal exemplo é apenas para mostrar que vivemos num ambiente capitalista que determina como devemos agir e de que forma vamos acolher as pessoas. O acolhimento, o choro e a sensibilidade devem ater-se apenas aos nossos semelhantes racial, social e econômico.
O Capitalismo transformou tudo em condomínio existencial. A rotina é a soberba, a indiferença e o individualismo. A rotina e a ostentação. O lazer capitalista é exercer a humilhação contra os mais pobres.
No modo capitalista de ser, grande parte dos seus discípulos tem o prazer de humilhar a empregada doméstica, o zelador, o porteiro.
No modo capitalista de ser, essas pessoas são invisíveis até mesmo dentro das casas, condomínios e fazendas.
A ordem ontológica capitalista é apresentar-se ao mundo através de etiquetas. A ordem capitalista ,transforma seus idiotizados em outdoor ambulantes.
O barato é ter algo! o barato é sangrar a alma e o corpo até alcançar o objeto desejado. O barato é isolar dos feios, dos rostos surrados nas lavouras e nos canaviais. O barato é apoiar a higienização social e criar lugares próprios para pessoas iguais a nós.
Ser humilde é transgredir o sistema!
Já... já aparecerá um parlamentar, devoto do capitalismo, para propor uma proposição no sentido de punir as pessoas realizados profissional e economicamente que optam por uma vida humilde e discreta.
Corre-se o risco de criminalizar e demonizar a humildade como se fez com ócio no passado recente.
Vivamos a simplicidade, mesmo morando bem e tendo bons e cobiçados objetos.
A simplicidade é o caminho para superarmos o medo, o preconceito e as esquizofrênias da alma egoísta.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

MORTE: UMA QUESTÃO MERAMENTE CULTURAL

Ator belga morre após recorrer à eutanásia

"Sou um homem feliz, vivo em uma época e em um lugar onde posso determinar meu próprio final e pôr fim a um sofrimento em vão". (Carls Ridders)
CARLS RIDDERS quebrou o mito do horror que se tem diante da morte. Horror este construído pela simbologia do inferno de Dante adotada pela tirania religiosa. Morre de forma digna e convicto de que a vida humana inexoravelmente tem dois caminhos: a velhice ou a morte. Contra isso não adianta brincar de Cocoon ou de Peter Pan; da busca inútil da fonte da juventude. Ter consciência da morte é ter consciência da nossa própria limitação humana. A morte é um freio a nossa arrogância e ostentação.
Carls Ridders era ator e diretor do teatro Holandês. Sofria de doença neuromuscular. Morreu neste domingo(8/12), após recorrer a eutanásia. Morreu num País onde a liberdade individual da escolha de viver ou morrer está nas mãos do próprio ser humano. Morreu num Pais onde a consciência do próprio ser humano é a sua própria regra e o seu limite.
Morreu num País onde o espírito laico é fator determinante da manutenção da coesão social e da diversidade humana.
Que o espírito de Carls Ridders esteja sempre na vida de homens e mulheres que comprovadamente não têm temor diante da morte. Via de regra, são homens e mulheres desprovidos de egoísmo, individualismo predatório e ostentação social.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

SOLIDARIEDADE ESTÉTICA!

O Brasil assiste perplexo a catastrofe em Santa Catarina. É uma catastrofe anunciada e prevista. A natureza não é má, perversa e sem ética. A natureza sempre esteve no seu lugar. Os meus ancestrais sempre tiveram respeito pela natureza. Na África Pré-colonizada os povos sempre procuraram respeitar a força da naturezaE sabiamr reconhecer os seus limites de seres humanos.
Já na tradição Européia, a lógica era dominar ao máximo natureza. Desprezou-se os aprendizados dos povos milenares e imposuram a razão iluminista e calvinista, além da técnica e conhecimento mercantil. As culturas africanas e índigenas foram substimadas, folclorizadas e primitivilizadas.
A moda era adotar a técnica e o conhecimento europeu. A ordem era devastar, trazendo os Bandeirantes para eliminar tudo que estivessem em seus caminhos. A ordem era trazer o progresso técnico e humano às custas da expropriação das terras indigenas.
Chegou-se o progresso! Chegaram os europeus com a arrogância civilizatória. Dominaram os índíos e negros e inultimente a natureza. Logram êxito através da escravidão. Iam caminhando, achando-se imunes a qualquer reação.
A natureza reagiu e vidas estão sucumbindo sobre os escombros dos seus apetites acumulacionistas.
Na tragédia de Santa Catarina deveria-se tirar lições para as futuras gerações. Ensiná-las que o nosso poder bélico, econômico, intelectual jamais sobreporão a força da natureza.
Como bem disse o velho Marx: "Tudo que é sólido desmancha no ar". A arrogância do nosso jeito de ser Ocidental nos levará ao abismo existencial e ambiental.
Temos que ter solidariedade! Contudo, não podemos nos perder no auto exame das nossas atitudes. Urge fazermos uma revisão ética das nossas posturas civilizatórias.
Inútil será a nossa tentativa de querer domar a natureza na sua plenitude. Inútil será a nossa ânsia em destruir cada árvore, cada animal, cada índio.
Santa Catarina é uma alerta. Santa Catarina é um prenúncio de um futuro tenebroso. Ou cuidemos da natureza ou todos nós cairemos na mesma vala entupida pelos nossos entulhos consumistas e individualistas.
Feliz é Santa Catarina que recebe uma solidariedade nunca dantes vista na vida e no sofrimento dos favelados que continuamente perdem suas moradias em tempos de fortes chuva.
Feliz é Santa Catarina que tem um povo seletivo e europeu que em tempos de tragédia consegue comover a nação.
Enquanto salvemos aqueles irmãos, outros irmãos morrem de fome, nas palafitas, nas periférias e de bala perdida, sem qualquer direito a receber solidariedade deste mesmo povo que chora pelos Catarinenses.
A dor do favelado jamais chegará aos ouvidos destes mesmos solidários. Afinal, quem tem tem culpa por nascer negro, rostos feios e sem estética.
A favela é feia. Camboriú ou Ilhota é belo e turístico.
Viva a solidariedade nacional que se expressa somente em função da cor e da origem européia.
Viva a solidariedade seletiva e segregacionistas.
Salvemos Santa Catarina e Ignoremos outros sofredores deste Brasil dos contrastes sociais e raciais!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

CORPO SARADO, OUVIDO ESTOURADO!

Nas caminhadas mecânicas e cadenciadas feitas costumeiramente no parque deparei-me co m um aviso: "Venha participar da temática qualidade de vida. Terá dança, ginástica, yoga, massagem, etc." O que se oferecia era momento de lazer para dá sensaçao de qualidade de vida.
Contudo, não bastasse as faixas, estava lá uma palco montado, com um som altamente estridente.
O som era alto e audível equidistantemente. Tocava-se nos mais altos decibéis. Comecei a pensar o quanto somos automatos e seres ipensáveis. Enquanto malhamos os nossos corpos nas academias e parques semanais, o som invade os nossos ouvidos. Cuidamos do corpo, do físico e da estética corporal sem se dar conta dos nossos ouvidos.
Ficamos minutos andando, dançando ou caminhando sob a batuta de uma música que serve para nos instigar e animar. Enquanto se arregaça o som nos ouvidos, os corpos balanços e movimentos numa esteira circudante.
Assim é o ser do presente, um ser que busca a satisfaçao física e estética sem pensar no espírito e na alma.
O Corpo balança. Estoura-se os tímpanos e continua-se a mesma coisa: seres humanos cansados de si próprios que busca noc onsumo a pretensa felicidade existencial.
Chega que vou malhar o meu corpo e usar aparelho da telrex para proteger-me da desconexa música tocada nos parques ou nas academias.
Vou ficar malhado e sarado desfilando-me com um aparelho para surdez.
Isto que é ser chic no mundo de tesão artificializado.